A Princesinha do Mar está cortando um dobrado (e suando horrores) para receber, com pompa, a cantora Madonna. Até o próximo sábado (4), quando a Rainha do Pop subirá ao palco montado em frente ao Copacabana Palace — para o encerramento da turnê mundial "Celebration", diante de uma plateia prevista em pelo menos 1,5 milhão de pessoas, a maior na carreira da artista —, milhares de profissionais estarão em função da americana, direta ou indiretamente, e com a cara totalmente no sol. É uma maratona exaustiva, sem muito tempo para descanso. Para a maioria dos envolvidos, não há folga nem mesmo nesta quarta-feira (1º), feriado em que se celebra o Dia do... Trabalho.
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— Estamos nessa luta, né? E, pior, castigados por esse calorão — desabafa o agente de montagem Maicon André, de 38 anos, que aproveita uma breve pausa na labuta, erguendo estruturas de torres de policiamento, para refrescar a cabeça num chuveiro de uma das barracas na areia. — Não é fácil. Para falar a real, nosso trabalho tinha que ser mais valorizado e principalmente mais bem remunerado. É a gente que faz a parada acontecer, né?
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Ao lado dele — em meio à onda de calor que deve provocar temperaturas recordes nos próximos dias, segundo meteorologistas —, cerca de quatro mil trabalhadores de diferentes perfis e segmentos seguem a pleno vapor na reta final desta missão batizada, de forma bem-humorada, de TPM (tensão pré-Madonna). Nesta terça-feira (30), pelo menos mil pessoas da equipe andavam pra lá e pra cá, junto a banhistas e turistas na praia, com barras de ferro, tratores, escavadores, tubos, cabos...
Diferentemente do que se via nos arredores da entrada do Copacabana Palace, tomado por uma dezena de fãs — alguns até mesmo com binóculos — à espera de uma aparição da estrela internacional na janela, nenhum dos operários na praia fazia muita questão de bisbilhotar a fachada do hotel. "Para que isso?", questionavam, ao analisar o comportamento dos admiradores da artista. Todos os trabalhadores ouvidos pelo GLOBO ressaltaram que não sabem entoar as letras da cantora, dando de ombros para o frenesi na cidade, com praticamente 90% dos hotéis do bairro ocupados.
![Sol, calor e trabalho invisível: a rotina exaustiva de quem monta o cenário para Madonna brilhar em Copacabana (7) Sol, calor e trabalho invisível: a rotina exaustiva de quem monta o cenário para Madonna brilhar em Copacabana (7)](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/Grw0kx8n7B1i5dmIJTJwYN-DEIM=/0x0:1280x960/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/1/P/6PUOkBSESkN6f4CqbkZQ/whatsapp-image-2024-04-30-at-15.04.21.jpeg)
— Para mim, Madonna não cheira nem fede. Nunca tinha ouvido falar muito... E, sinceramente, não conheço as músicas — frisa o agente de montagem André Luiz Guedes, de 45 anos. — O que sei, até agora, é que ela está ali do outro lado da rua, no ar-condicionado de um quarto de luxo, enquanto estou aqui debaixo do sol (risos). Às vezes, fico pensando: podiam também usar esse dinheiro que gastaram com a vinda dela para melhorar escola, hospital, transporte... Não é?
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Morador de Magé, na Baixada Fluminense, Leonardo Oliveira atua como agente de montagem e desmontagem de grandes eventos desde 2011. Em termos de estrutura, a proporção do show de Madonna é a mesma da que se vê no réveillon de Copacabana, avalia ele, figurinha frequente nos bastidores do mais famoso Ano Novo do mundo. Na última terça-feira (30), enquanto erguia barras de ferro para montar uma torre policial na areia, o operário vislumbrava o próximo dia de folga, no sábado:
— Pois é, não vou trabalhar na data do show! E, com toda a certeza, posso dizer que não estarei aqui — graceja o homem de 40 anos, pai de dois filhos adolescentes.
![Sol, calor e trabalho invisível: a rotina exaustiva de quem monta o cenário para Madonna brilhar em Copacabana (10) Sol, calor e trabalho invisível: a rotina exaustiva de quem monta o cenário para Madonna brilhar em Copacabana (10)](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/SGMfFerJXTmNal2Q4QfIpxyoxGU=/0x0:6224x3973/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/f/5/MINIa3R8q8wugsKUu3tg/106756397-ri-rio-de-janeiro-rj-30-04-2024-operarios-trabalham-na-construcao-do-palco-do-megasho.jpg)
Das últimas semanas pra cá, o operário tem acordado às 4h para bater o ponto às 8h, em Copacabana. É uma rotina cansativa. Quando chega em casa, ele só tem tempo para "comer, tomar banho e dormir para estar na praia de novo", como diz.
— Até conheço Madonna. Sei quem ela é, claro. Mas o estilo de música que eu gosto é o pagode. Para que então iria a esse show no meu dia de folga? Já trabalho montando esse evento. No dia da apresentação, quero mesmo descansar — assevera.
Aperitivo à vista
Até sábado, aliás, será possível tirar uma casquinha da performance que vem por aí. Madonna ensaiará a apresentação, nas próximas quinta-feira (2) e sexta-feira (3), num horário à noite, ainda não definido, como apurou o GLOBO.
![Sol, calor e trabalho invisível: a rotina exaustiva de quem monta o cenário para Madonna brilhar em Copacabana (11) Sol, calor e trabalho invisível: a rotina exaustiva de quem monta o cenário para Madonna brilhar em Copacabana (11)](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/eRntAKsfTQk0KKf52f382G1BuOA=/0x0:7035x4626/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/q/N/PJ6FPTQbG49W3VAUBEeQ/106756419-ri-rio-de-janeiro-rj-30-04-2024-operarios-trabalham-na-construcao-do-palco-do-megasho.jpg)
A presença da artista nas passagens de som é certa, como relataram ao GLOBO profissionais envolvidos na produção do megashow. É que o encerramento da turnê "Celebration" ganhará forma, em solo tupiniquim, num palco com o dobro do tamanho visto nos demais países por onde Madonna passou com a mesma apresentação. Serão 812 metros quadrados e três passarelas — a central, com 22 metros de extensão — a 2,4 metros de altura do chão.
Quem mantém bem guardada toda essa estrutura é Amanda Ambrósio, junto a uma equipe de dezenas de profissionais especializados em segurança. Há 14 anos, a carioca do bairro de Água Santa atua como agente patrimonial em eventos voltados para multidões. Em Copacabana, todos os dias, das 8h às 20h, ela fica a postos na entrada da área para funcionários e convidados, controlando quem entra e quem sai do setor atrás do palco.
— É um trabalho de firmeza. Sem a gente, a festa não acontece. A gente cuida de toda a segurança patrimonial, do pessoal artístico ao último prego no palco — explica ela.
Assim como Amanda, os colegas da profissional reconhecem, de maneira unânime, que realizam um ofício invisível aos olhos do público. O cenário poderia ser diferente e um pouquinho mais favorável para eles, como todos apontam. Por exemplo, enquanto rolar o show no sábado, quem imaginará que há dezenas de dutos para passagens de cabos de fibra óptica sob a areia — e que todos os fios foram enterrados manualmente por uma extensa equipe de trabalhadores?
— As pessoas passam na calçada, veem a gente aqui e não fazem ideia de toda a trabalheira — diz Robinson Schweitzer, um dos responsáveis pela produção técnica do show. — Mas não tem jeito. Esta é a profissão que a gente escolheu: levar diversão para o público. Para isso, temos que trabalhar até no feriado do trabalho.